quarta-feira, 13 de junho de 2012

"Jesus foi cruxificado nu,porque? porque ele erá o segundo Adão."

O Evangelho de Marcos
Capítulo 15.23-25
(23) Então lhe deram vinho misturado com mirra, mas
ele não o bebeu. (24) E o crucificaram. Dividindo as roupas
dele, tiraram sorte para saber com o que cada um iria ficar.
(25) Era a hora terceira, quando o crucificaram.
As penas descritas como legalmente aplicáveis de acordo com
as leis do Antigo Testamento eram o apedrejamento (Deut. 17.5), o
fogo (Lev 20.14), o enforcamento ou estrangulamento (Josué 8.29) e
a espada (Deut.20.13). Não se conhecia a crucificação. Pendurar
vivo, por crucificação ou de outra forma, consistia em uma “afronta a
Deus”; em uma profanação da terra santa. A prática de “pendurar”
um condenado depois de morto, “para que tema e jamais se
ensoberbeça” (Deut.17.3) era prática reservada aos idólatras e aos
blasfemos.
A crucificação de pessoas vivas era uma maneira persa (Irã) de
execução e deve ser considerada como extremamente desumana,
principalmente por causa da duração do suplício. Dependendo do
modo como o condenado era colocado na cruz, a morte demorava
horas ou até dias para chegar. Voltaremos ao assunto mais adiante.
(23) Então lhe deram vinho misturado com mirra, mas
ele não o bebeu. Era um antigo costume judaico que um homem
condenado, quando levado para o lugar da execução, tinha de
receber um gole de vinho com incenso dentro “para que seu espírito
se perdesse”, isto é, ficasse inconsciente. Foram, conforme fontes
judaicas, “as queridas mulheres de Jerusalém” que se apresentaram
e trouxeram o vinho e lho ofereceram. Jesus não bebeu o vinho; sua
consciência esteve desperta durante as seis horas seguidas que ficou
pendurado na cruz.
(24) E o crucificaram. A prática romana era amarrar o
condenado na cruz com cordas, e não pregá-lo. Todas as fontes, no
entanto, afirmam que Jesus foi pregado. Qual a diferença?
A crucificação era conhecida em Roma como a morte mais
grave e mais cruel (summum suplicium), originalmente mantida
somente para executar escravos e estrangeiros ou como pena para
crimes hediondos. O horror geral que o suplício despertava pode ser
sentido nos nomes dados às partes da cruz, instrumento de tortura: a
vítima ficava de pé numa assim chamada “tábua infeliz” (infelix
lignum) e era pendurada numa “viga infame” (infames stipes).
Cícero, escritor romano, a considerou a mais cruel e terrível
penalidade e recentemente ela foi definida como “o ponto culminante
da arte do torturador” (Goguel).
Nos crucifixos (que, sem entendermos o que estamos fazendo
quando os expomos como enfeites pessoais), Jesus parece
descansar. Na crucificação real, porém, a posição em que o corpo
está sendo esticada, leva aos poucos, um por um, cada órgão vital
interno a se dilacerar, literalmente “a se rasgar”. Ao mesmo tempo, a
respiração está sendo dificultada ao máximo, e somente um grande e
doloroso esforço do condenado, apoiando-se com seus pés na “tábua
infeliz” por algunas momentos, lhe permitia tomar um pouco de
fôlego. Dessa forma, com as articulações sendo luxadas e os órgãos
vitais internos sendo dilacerados aos poucos, a vítima estava sendo
torturada e mortificada em “câmara lenta”.
A diferença em amarrar as vítimas (modo geral) ou pregá-las,
como no caso de Jesus, está no tempo do suplício. Há relatos de
crucificações romanas através da colocação com cordas, onde a
vítima ficou suspensa por dias, sendo morta finalmente por aves de
rapina ou chacais ou morrendo de sede.
O imperador Cláudio exprimiu certa vez o desejo de
testemunhar uma crucificação, motivo pelo qual vários condenados
foram, um dia, crucificados diante de seus olhos; depois de olhar
para eles por muitas horas, Cláudio se impacientou ou cansou-se,
ordenando que fossem mortos.
Os condenados pregados na cruz não sobreviviam por tanto
tempo, pois os pregos abriam feridas na carne e os condenados
perdiam muito sangue durante a suspensão. No caso de Jesus, a
necessidade de apressar a morte se dava à aproximação da festa do
Pessach (Páscoa). Nenhum judeu morto podia ficar pendurado a
partir do cair da noite; seria profanação da terra. Jesus foi crucificado
pelas nove horas da manhã da véspera da grande festa. Até ao
anoitecer, ele tinha que morrer e ser baixado da cruz, junto com os
dois zelotas crucificados juntos. Os romanos conheciam essa lei
religiosa dos judeus e a respeitavam para não causar revolta (algo
que não os interessava), principalmente durante a Páscoa, quando a
cidade estava repleta de, usando a ótica dos romanos, “peregrinos
fanáticos”.
Os judeus, com suas leis rígidas quanto ao sábado, até
mencionam os pregos usados em crucificações. Estes pregos, uma
vez usados, eram tidos como “apetrechos médicos”, pois estavam
cheios de sangue e esse tinha, na crença popular, poderes de cura.
Ao contrário de qualquer outro esforço físico, os rabinos permitiam ao
judeu carregar “pregos de crucificados” aos sábados! A opinião
médica da época, no entanto, estava dividida quanto ao uso para o
qual estes pregos deviam ser recomendados: havia aqueles que os
julgavam infalíveis para diminuir inchações e inflamações; outros os
preferiam como cura contra queimadura da urtiga, e um célebre
médico ulterior insistiu em prescrevê-lo para o tratamento da febre
terçã (Cohn).
É provável que a crença na “virtude médica dos pregos” tenha
sido importada de Roma, juntamente com a cruz: ali eles estavam
sendo aplicados aos epilépticos e até para deter a expansão de
doenças infecciosas e epidêmicas.
Uma observação: Ficamos surpresos pelo fato de católicos e
para-evangélicos participarem da crença popular no poder de
“pedaços de madeira da cruz”, ou similar. Pelo que sabemos, contudo
ainda não se descobriu o mercado desses pregos!...
No ano de 1968, a arqueologia fez uma descoberta
interessante: a “urna do crucificado em Giv’at há-Mivtar”. Ela data da
primeira parte do século primeiro (período de Jesus) e nos permite
ter uma idéia de uma das muitas variedades de cucificação da época
(veja no anexo).
Dividindo as roupas dele, tiraram sorte para saber com o
que cada um iria ficar. Uma pessoa condenada à morte era despida
do que tinha sobre o corpo antes da execução e o executor tinha o
direito de reclamar os despojos como propriedade sua. A partilha da
roupa entre os soldados da guarda seguia um costume romano, a
“lex de bonis damnatorum“. Nos nossos crucifixos, Jesus aparece com
o sexo discretamente envolto com um pano; na realidade Ele foi
crucificado nu, tirando-lhe a última dignidade; outra humilhação do
sentimento judeu. Não há notícia do “direito da toalha” que o
Talmude concedeu aos condenados ao apedrejamento, para esconder
o sexo. Somente a partir de 425 d.C. a tradição cristã conhece uma
tanga; a imagem mais antiga, um amuleto gnóstico do segundo
século, mostra Jesus crucificado nu. Como sua túnica era de uma
peça única, “sem costura, toda tecida de alto a baixo” (João 19.23),
ela não fora cortada; a sorte determinou seu novo proprietário. O
filme “O Manto Sagrado” (Fox Clássicos 1953) pertence à lenda; nada
sabemos mais desse manto. Os carrascos assim partilharam os
poucos bens de Jesus: túnica, sandálias, possivelmente um cinto e
um pano de cabeça, enquanto Ele jazia pregado.
O salmo 22 que, escrito quinhentos a mil anos antes, já
descreveu detalhes do sofrimento do Messias, previu essa cena:
“Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam
sorte” (verso 18/19). A alegação de alguns comentaristas de que os
evangelistas “inventaram” esse detalhe para construir “provas” não
convence pelo simples fato de duas fontes independentes e linhas
diferentes de tradição (Marcos e João) mencionaram o fato. Esse é
uma dos mais de duzentos detalhes das escrituras confirmando Jesus
como o Messias prometido pelos profetas.
Era a hora terceira, quando o crucificaram. Eram nove
horas da manhã.

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