segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

VEJA SE ESSE DEUS NÃO É TREMENDO!

Segundo as espécies que Deus salvou as aves, estão as "aves do ceú" e para que? veja o versiculo: Gn 7.3 Também das Aves dos céus, sete pares: macho e fêmea; para se conservar a semente sobre a face da terra.

Isto se chama ORNITOCORIA, dispersão das sementes pelas aves!



Restauradores da Mata Atlântica

Com o cardápio à base de frutos, os parentes mais coloridos dos tucanos transportam sementes de um canto para outro e contribuem para recuperação da floresta


    A Mata Atlântica de Nordeste é um ‘arquipélago’ com pequenas ilhas de floresta nativa isoladas por plantações de cana-de-açúcar ou pastagens. A maioria das ilhas tem área inferior a 100 hectares e já perdeu muito de sua biodiversidade original devido ao processo de fragmentação. Para resistir ao tempo, a vegetação remanescente pede providências muito além da simples proteção contra fogo, novos desmates e extrativismo predatório. Pede reposição, enriquecimento, revitalização. E a ajuda não precisa vir obrigatoriamente pela mão do homem. Também pode ‘cair do céu’, com a colaboração de aves capazes de voar por longas distâncias, estabelecendo uma ponte aérea entre as ilhas e ‘bombardeando’ cada ponto de chegada com sementes ‘colhidas’ nos pontos de partida. Alguns desses mensageiros vitais para a restauração florestal atendem pelo nome comum de araçaris.Alterar o tamanho da letra

Da mesma família dos tucanos e tucaninhos — Ramphastidae —, os araçaris se alimentam de frutos de palmeiras e de outras árvores altas. Preferem os mais carnosos e ricos em lipídeos (gordura), alguns com mais de 4 cm de diâmetro. Entre as espécies mais consumidas estão os palmitos juçara e açaí (Euterpe edulis E. oleracae), bacabas (gênero Oenocarpus), figueiras (Ficus), goiabas e araçás (Psidium), becuíbas e ucuúbas (Virola), mandioqueiras (Didymopanax) e carurus (Phytolacca).
O bico grande ajuda as aves a alcançar e colher os frutos na ponta dos ramos mais finos, em meio ao emaranhado das copas densas e nos cachos das palmeiras. Um golpe vertical de cabeça traz o fruto da ponta do bico ao alcance da língua em forma de pena, adaptada para raspar a polpa — e só a polpa. Para a natureza, essa é a maior vantagem dos araçaris em relação a araras, papagaios e periquitos, amantes dos mesmos frutos: eles não danificam as sementes. Resultado? Elas germinam!
Das sementes ‘processadas’ por araçaris boa parte é regurgitada quando livre da polpa. Algumas são engolidas junto com o fruto, mas passam incólumes pelo trato digestivo, mantendo a capacidade de germinação. Tem mais: como são irrequietos e não permanecem por muito tempo no mesmo lugar, eles largam as sementes quando já vão longe da árvoremãe. “Essas aves comem muitos frutos por visita, depois voam a grandes distâncias. A maioria das sementes é regurgitada, ou seja, o embrião não é afetado e a germinação pode até ser acelerada”, comenta o especialista em dispersão de sementes, Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro (SP), e pesquisador visitante na Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA). Com seus hábitos diferenciados, os araçaris cumprem um importante papel como semeadores, aumentando – e muito – as chances de a mata se renovar com a necessária diversidade.
“Existem outros dispersores grandes, como jacus e jacutingas (gêneros Penelope ePipile), mas estes ficam restritos a um mesmo fragmento, enquanto os araçaris voam 500 metros, ou até mais de 1 km, sobre canaviais ou pastagens, migrando entre um fragmento e outro”, complementa a ornitóloga Sônia Roda, do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), com sede em Recife (PE). “E o mais interessante é que, ao migrar de um fragmento mais rico para uma apoeira ou mata secundária degradada, os araçaris levam consigo as sementes de árvores da mata primária, da mata madura. Ou seja, eles não apenas mantêm as ilhas, garantindo a renovação natural, eles as enriquecem”
Mais ainda? A diversidade do plantio promovido pelos araçaris não é só de espécies. É também genética. As plantas-filhas de uma ucuúba-mãe, por exemplo, podem ser semeadas num outro fragmento florestal ao lado de uma ucuubeira da mesma espécie, mas sem qualquer parentesco direto. Essa ‘misturança’ — ou o “fluxo gênico entre as populações das plantas”, como preferem os cientistas — contribui para tornar as ilhas de mata mais equilibradas e mais saudáveis, em melhor condição para resistir ao processo de degradação decorrente da fragmentação. Vale lembrar que, mesmo em fragmentos protegidos, sempre ocorre algum tipo de degradação quando o trecho de floresta fica na vizinhança de rodovias, lavouras ou cidades, como conseqüência de poluição, acidentes, fogo, excesso de vento, alterações do microclima ou devido ao próprio isolamento.
Ser o reverso do homem, no entanto, não garante às aves o direito de voarem impunes. Em seu paciente e contínuo trabalho de restauradores, os araçaris circulam descuidados por sua ‘ponte aérea’, em duplas, em trios ou em pequenos grupos, todos barulhentos, sempre. As vozes de estalidos inconfundíveis alertam caçadores ilegais, denunciando sua localização.
Na Amazônia, o consumo de araçaris, saripocas e tucanos é freqüente, dentro ou fora de reservas extrativistas, sobretudo em áreas de floresta aberta, buritizais e palmais, onde a mira é mais fácil. “Na Mata Atlântica de Sudeste, nas baixadas, em abril e maio, os araçaris acompanhavam a frutificação dos palmitos-juçara, subindo depois a serra, atrás dos frutos maduros. E os caçadores se reuniam para matar a bicharada. Agora, eles praticamente desapareceram no litoral. Só ocorrem em alguns trechos escondidos, nas encostas, os quais prefiro nem divulgar”, comenta Herculano Alvarenga, médico e ornitólogo, fundador e diretor do Museu de História Natural de Taubaté (SP). Há pelo menos 40 anos, ele observa aves no litoral norte de São Paulo e credita o desaparecimento dos araçaris tanto à ação dos caçadores como à destruição do hábitat, decorrente da expansão imobiliária.
“No Nordeste, para muitos caçadores, araçaris ainda são troféus. Eles consomem a carne e guardam o bico para exibir. Nem sabem direito qual espécie é, mas acham bonito. E não é só para matar a fome, pois o preço pago pela munição muitas vezes é maior do que o preço de um quilo de frango. É aquele orgulho de dizer que entrou na mata e caçou”, relata Sônia Roda, cujo trabalho se concentra no chamado Centro de Endemismo Pernambuco, uma região considerada especialmente rica em biodiversidade. “Investimos nas crianças e jovens, sobretudo as da comunidade próxima à Usina Serra Grande, em Alagoas, sempre muito curiosas. Os mais velhos mantêm arraigado o hábito de caçar”, diz.
“Os araçaris ainda chamam a atenção por seu colorido e são visados pelos traficantes que abastecem o comércio para viveiros. Os filhotes e os jovens são muito ‘bobos’, fáceis de encontrar e capturar”. As estatísticas da fiscalização confirmam o comentário da ornitóloga pernambucana: nos meses de verão, tempo de reprodução em toda a Mata Atlântica, são freqüentes as apreensões de filhotes de araçaris destinados ao tráfico, nacional e internacional.


 
Todo tipo de floresta, de Norte a Sul
 
    As 11 espécies de araçaris nativas do Brasil se distribuem tanto pela Amazônia como pelos remanescentes florestais da Mata Atlântica de Sudeste e de Nordeste. E pelo menos 3 delas alcançam também as matas de interior, no Pantanal e, mais ao Sul, na fronteira do Paraguai com os Estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul.

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